ÍndicePor Gilvan Magalhães, Cientista Político com especialidade em Sociologia e Antropologia na UFPE

Doze anos depois de deixar o poder, o PSDB toca diariamente o Dobre de Finados para mostrar que, ou se reinventa ou vai afundar na irrelevância. Aquele PSDB que se apresentou como um partido moderno, a opção pela social-democracia, um conjunto de homens e mulheres que tinham um projeto para o país, aquilo tudo virou suco!

E não é de hoje, o PSDB está padecendo de obsolescência precoce. Talvez tenha chegado cedo demais ao poder, talvez não tenha tido tempo de construir uma sólida identidade. Identidade que se desmanchou no ar desde a perda do governo federal em 2002.

A derrota de Serra para Lula deixou o PSDB à deriva. O partido perdeu a eleição e perdeu o rumo. Perdeu a própria identidade. Passou os primeiros anos do governo Lula meio atarantado, meio barata tonta, sem saber se votava a favor das reformas, porque eram bandeiras do partido, ou porque não sabia fazer oposição.

Veio a crise do mensalão e os tucanos passaram a se torturar, em dúvidas hamletianas, sobre atacar ou não o presidente Lula. Como não sabem fazer oposição, não despiram os punhos de renda e não quiseram partir para a briga.

Caminharam a reboque dos escândalos, deixando para a imprensa o papel de investigar, descobrir fatos, correr atrás de denúncias. De camarote, o PSDB aguardou que todo o trabalho da imprensa resultasse num Lula & Dilma em frangalhos, humilhados e derrotados.

E a presidência da República cairia em colo tucano por gravidade, sem que suas Excelências tivessem que se coçar. Bem feito, deu tudo errado!

O PSDB perdeu a bandeira da estabilidade econômica para Lula, que dela se apropriou sem a menor cerimônia. Os tucanos não defenderam os oito anos em que estiveram no poder e se deixaram constranger pela acusação de privatizadores irresponsáveis, que “venderam o patrimônio do povo brasileiro”.

O PSDB nasceu em São Paulo, e seu comando nacional, de fato, é até hoje paulista. Os grupos mineiro e o carioca são apenas uma rainha da Inglaterra.

Aliás, nisso PSDB e PT são gêmeos quase siameses. Não importa o tranco, não importam os escândalos, não importa a eleição esporádica de dirigentes de outros estados. O controle sobre o aparelho partidário e sobre as decisões do partido, tanto no PSDB quanto PT, está nas mãos de paulistas.

Sem identidade, sem discurso, sem projeto para o futuro, sem rumo, o PSDB tenta sobreviver como uma caricatura do PMDB: um grupo de caciques regionais – cacique demais para pouco índio – tratando de seus interesses provincianos. Mas acontece que o PMDB é o partido da federação, nasceu assim e retira suas energias da disputa política nos municípios e nos estados.

O PSDB não tem cacife para isso. Não tem voto, não tem tamanho, não tem bancada, não tem vereadores, prefeitos e deputados em número suficiente para falar grosso como partido federativo. Ao protagonizar este papelão, as lideranças tucanas desrespeitam seu próprio projeto, o de um partido nacional.

Vamos combinar uma coisa: o melhor PMDB que existe e sempre existiu é o PMDB. O resto não passa de triste caricatura. O PSDB não tem bandeiras novas a defender, não tem lideranças nacionais a seguir, não tem temas a discutir. E vive no eterno dilema shakespeariano: “ser ou não ser, eis a questão”.