Giovanni FilhoGiovanni Filho é jornalista e mestrando em comunicação

Fagulhas de “simancol” estão tornando os discursos do prefeito Luciano Duque, durante entrevistas à imprensa, cada vez mais interessantes. Num curtíssimo espaço de tempo, o gestor admitiu dois parcos atestados de leniência administrativa: se autoavaliar merecedor de nota 5 e reconhecer, em cadeia de rádio, que o município não possui nenhuma obra com recursos próprios até o momento. Em entrevista esta semana Duque destacou que está no meio do caminho de um trabalho que ainda teima em mitigar a sua própria essência. Um exemplo disso são as obras de asfaltamento do bairro Ipsep.

O gestor praticamente pôs a culpa na população por construir casas em locais irregulares e disse que “a prefeitura não pode dar solução a problemas que não estão na nossa alçada”. Segundo Luciano Duque, por mais que a prefeitura intervenha, e instale tubulações para escoamento das chuvas, “não irá resolver o problema daquele bairro, porque ali passa um riacho enorme e os moradores construíram no curso das águas”.

Dessa forma, o prefeito reconhece que o polêmico serviço de asfaltamento de 29 ruas no bairro é apenas um paliativo, um adereço desastroso de engenharia montado na intenção de impactar o cotidiano do bairro. O âmago do trabalho não visa resolver os verdadeiros entraves estruturais da localidade. Parece inconcebível que um projeto orçado em quase R$ 2 milhões não se predisponha a encarar um problema de drenagem e escoamento das chuvas no Ipsep.

O que soa mais como falta de capacidade política. No entanto, na visão de Luciano Duque, não. Ele encontrou uma explicação metafísica para os problemas do bairro, uma solução quase teocêntrica. Disse que é preciso os moradores respeitarem a mão de Deus, que ora bate e castiga os seus filhos, ora alisa e acalma os corações. “A mão de Deus manda água em demasia e quando vem, infelizmente, temos que entender que vai ter problema, mas que também devemos agradecer”.

Depois dessa, rezemos para que Deus tenha dó da população de Serra Talhada e envie os seus engenheiros Gabriel, Rafael e Miguel para encontrar uma solução antropocêntrica aos problemas do bairro Ipsep. Enquanto o nosso prefeito continuar crente na penitência divina, esquecendo-se que dele emana a responsabilidade do poder laico, estaremos, de fato, ao Deus dará. Oxalá, se a culpa é dos céus, dos moradores da cidade e nunca da prefeitura.