Manu

Por Emmanuelle Silva, estudante de Letras na UFRPE/Uast, militante social e repórter do FAROL

Tenho visto em redes sociais diversas críticas pesadas contra a nova novela das 9 da rede Globo. Não sou a mulher mais noveleira, não sou fã da rede Globo, mas os argumentos das críticas me chamaram bastante a atenção. Homofobia e falso moralismo são os principais motes e mesmo que a arte nem sempre tenha o compromisso de imitar a vida, a televisão brasileira finalmente começou a permitir que as tramas das novelas tratem de assuntos que não só digam respeito às elites brasileiras. Não é de hoje que as novelas tratam de mentiras, intrigas, corrupção e mazelas sociais e morais do homem, mas beijo gay não pode? Aliás, nem gay é. Foi um beijo entre duas mulheres que se amam, ou lésbico. Como queiram.

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Todos aqueles sujeitos que são marginalizados perante a sociedade classista não integravam o núcleo principal de novelas durante anos, ainda podemos ver isso, mas em menor escala. Negros e negras em subempregos; gays somente no núcleo de humor; lésbicas? Quem são essas? Deficientes mentais ou físicos como coitadinhos. Enfim, as novelas e o público geralmente só valorizam o romance e os conflitos, que as personagens têm que passar para concretizar o ‘felizes para sempre’ do último capítulo. Quando há cenas com personagens homossexuais, ou qualquer outro assunto que seja tabu na sociedade e não interesse aos conservadores ou falsos moralistas vira polêmica. E das grandes. Pior, vira ofensa à família brasileira. O problema está em justamente nessa família ideal que querem impor a todos, como se pai, mãe e filhos fossem o único modelo familiar existente, e possível.

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O nome da novela tem realmente muito a ver com a repercussão que têm causado. Babilônia foi o Nathália-e-Fernanda2nome da capital da Suméria, na antiga Mesopotâmia, que atualmente é o Iraque. A palavra significa “Porta de Deus”, mas os judeus dizem que é um termo de origem hebraica, que significa ‘grande confusão’, e inclusive aparece na Bíblia. Sei bem e apoio toda a “confusão” que a novela causará. As personagens de Fernanda Montenegro e Natália Timberg representam um tipo de casal que não tem tanto espaço, inclusive, dentro dos debates de grupos LGBTs, mulheres idosas. A própria Fernanda Montenegro, uma atriz mais que consagrada no Brasil e no mundo declarou à revista Contigo que isso era uma besteira, tanto furor por 10 segundos de beijo. Fernanda Montenegro, diva!

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Toda obra de ficção não tem compromisso direto com a realidade, lhe copiando, lhe criticando, lhe distorcendo, lhe recriando, as obras ainda assim devem gerar a reflexão. Mas quem assiste a uma novela não se tornará gay, não se tornará negro, não se tornará corrupto ou mentiroso por causa das personagens que ali estão. A não ser que a pessoa já tenha a inclinação político-ideológica para isso, ou tente constantemente maquiar sua orientação sexual, sua identidade racial, sua postura política, e enfim, perceba que todos têm direitos, voz e vez em todos os espaços.

imagesQuem tiver medo de ser influenciado ou ter alguém motivado a fazer algo que considera errado desligue a televisão e vá ler, estudar, fazer uma atividade física, e não reproduzir preconceitos por aí.

Por hoje é só pessoal!