Luiz AurelianoPor Luiz Aureliano Carvalho, médico e vereador em Paulo Afonso (BA) e ex-secretário de Saúde de Serra Talhada

Quando fundamos o Partido dos Trabalhadores (PT) nos idos de 1980 e principalmente na campanha eleitoral de 1982 (fui candidato à deputado estadual), encerrávamos nossos discursos defendendo a construção de uma sociedade justa, fraterna e socialista. E agora, mais de trinta anos depois, me pergunto aonde foram parar aqueles nossos ideais? Estamos ajudando a criar uma sociedade justa? As desigualdades sociais no Brasil continuam da mesma forma, somos uns dos países mais desiguais do mundo, com uma das piores distribuições de renda do mundo, desigualdades regionais profundas, os ricos cada vez mais ricos (basta ver os dados do Banco Mundial).

Matar a fome é obrigação primária de qualquer governo, independente de viés ideológico; acabar com a miséria então nem se fala, é elementar. A nossa educação é vergonhosa, basta ver os números das avaliações internacionais (PISA). O nosso investimento em saúde continua muito baixo, menor que a maioria dos nossos vizinhos sul-americanos.

Uma sociedade fraterna(vem de irmão em latim), pressupõe que tratemos a todos os brasileiros de uma forma respeitosa, igualitária, sem preconceitos, sem maniqueísmos do tipo, bem e mal. Quem está ao meu lado é bom, quem não está  não presta. Todas as pessoas tem qualidades e defeitos, uns mais outros menos, precisamos ter caráter, princípios. Temos que respeitar as diferenças, sejam elas quais forem, religiosas, políticas, etc… A Democracia se constrói com respeito as diferentes concepções de sociedade, de papel de estado, naturalmente se preservando a garantia dos direitos básicos da cidadania.

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Não podemos num processo político eleitoral achar que quem não vota no nosso candidato não merece respeito, é mau caráter e por ai vai… Fiquei assustado com o maniqueísmo que se estabeleceu nesta campanha para presidente. A intolerância, o autoritarismo, o sectarismo dos donos da verdade. Que democracia é esta? Ninguém aceita critica de ninguém; isso é atraso político; falta de politização, de capacidade critica e de auto-critica.

Não podemos nos deixar levar pelo efeito manada, devemos votar naquele candidato que confiamos na sua honestidade (está raro), que concordamos com as suas concepções e propostas e não votar porque os meus amigos, conhecidos ou parentes vão votar. Vamos acabar com este ódio, com este bairrismo atrasado; tipo não voto em fulano porque ele não é nordestino, é a mesma postura dos idiotas(uma minoria) paulistas que tem o mesmo preconceito conosco.

A República se constrói com honestidade, transparência e acima de tudo com rotatividade no poder. Só um partido ou uma pessoa pode ocupar o poder? Isto é autoritarismo, é ditadura. Já falam agora que Lula será candidato em 2018. Será que no PT só tem Lula ou quem ele escolher para ocupar este cargo? Ninguém mais pode? Que democracia é esta?

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Lula já faz parte da história, já construiu seu legado; basta se mirar nos exemplos de Mandela e Václav Havel. Precisamos construir outro modelo de sociedade, onde todas as pessoas tenham os seus direitos garantidos pelo Estado, moradia, educação, saúde, renda e por ai vai… Mas também precisamos enxergar melhor a postura de cada um de nós, que na maioria vota pensando nos seus próprios interesses, no seu bolso, é o chamado ignorante racional, completamente despolitizado. Como se constrói uma sociedade justa, fraterna e socialista, junto com Collor, Sarney, Maluf, Jader Barbalho, Renan Calheiros,etc… Impossível! Já que eles vão partilhar do poder e são acostumados a privatizar a coisa pública (res pública). E percebam, todos estes políticos citados fizeram parte do governo do PSDB.

Não é governando com esta tropa que vamos construir uma Sociedade Saudável, limpa, fraterna, justa e socialista. Socialista não, já que vivemos nos marcos do capitalismo, mas o Estado precisa ter mecanismos de regulação para garantir o Estado de Bem Estar Social que precisamos para o nosso povo. Nem o PT e o PSDB vão garantir isto com as atuais praticas políticas e com estas alianças espúrias com políticos que se servem do Estado para fazer negócio e enriquecer.

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Mirem-se no exemplo de simplicidade do Presidente Mujica do Uruguai, na honestidade e qualidade de vida da Noruega, Suécia, Dinamarca e porque não dizer no sentimento de nação do povo americano. Podemos conseguir isto, basta termos uma política econômica forte, investindo em educação e tecnologia, tendo um comércio exterior sem viés ideológico, garantindo assim para todos os brasileiros os frutos da nossa riqueza.

Por último, quero dizer como cidadão, médico e militante político que o meu compromisso é com o ser humano, independente dele ser negro ou branco, brasileiro ou argentino, ateu ou religioso; vamos tentar viver de uma forma simples, respeitosa, leve, carinhosa, respeitando as diferenças; não podemos é com os nossos atos prejudicar ninguém intencionalmente.

A vida é frágil como um segundo (Violeta Parra).