saudade1[1]Por Adelmo da Favela, escritor e poeta serratalhadense

Próxima segunda-feira dia 20, a TV Globo começa as comemorações dos seus 50 anos de televisão. Na década de 60, aqui em Serra Talhada, a gente só assistia alguns momentos do futebol brasileiro nos cinemas Cine Art e Cine Plaza, que era mostrado antes de começar os filmes pelo Canal 100 e pelo Repórter Esso juntamente com as notícias que havia no Congresso.

Foi no início de 1970 que a televisão começou a chegar em Serra Talhada, a cidade não tinha a torre como também não tinha o sinal, e a única antena que o comércio vendia era a “pé de galinha”. A imagem era ruim com o povo agoniado sem poder assistir direito num chuvisqueiro danado. Quem teve muito trabalho foi o senhor Cardoso que tinha acabado de se formar no curso de técnico em eletrônica, sendo o único técnico da cidade. Com todo mundo levando o seu aparelho de televisão para ele consertar.

A televisão foi entrando aos poucos nas casas das pessoas de posses, aquelas que faziam parte da elite, que era considerada a classe rica da cidade. Com o passar dos tempos a televisão foi se propagando e entrando em todas as casas deixando o pobre e o rico no mesmo entretenimento. A imagem era em preto e branco e quando começou a chegar nas casas dos mais pobres começaram a botar um plástico colorido na tela que dava a impressão que a televisão era colorida, e muita gente achava que a televisão era colorida mesmo.

Eu morava na Rua Bernardino Coelho, e um dia quando eu estava chegando em casa, vindo do Pico da Bandeira, que era um campo de futebol que tinha dentro do campo de aviação onde hoje fica o bairro da “AABB”, eu fiquei muito preocupado quando vi uma multidão em frente a minha residência. Tinha gente na janela, tinha gente no portão, a calçada estava cheia, tinha gente até no chão.

Assustado com aquilo eu perguntei a um amigo o que estava acontecendo, ele foi logo dizendo: ‘É o seu irmão Gilson que chegou de São Paulo e trouxe uma televisão’. Quando eu entrei em casa foi que entendi direito aquela situação. Em cima de uma mesa estava a televisão. Era uma colorado RQ, a imagem era péssima num chuvisqueiro danado, estava passando o filme “O Vigilante Rodoviário”. Quando passou “Rintintin”  as pessoas discutiam, uns diziam é uma onça, outros de nada sabiam, só descobriram que era um cachorro quando “Rintintin” latia.

Veio a “Copa de 70” realizada no México, botaram uma televisão no topo da Serra que deu origem ao nome da cidade, na esperança que a imagem fosse boa para o povo assistir os jogos bem no topo de um lajedo, foi um momento engraçado num cenário inusitado.

Os calangos e os macacos juntos com as lagartixas, preás e camaleão, não deixavam ver direito e na tela o chuvisqueiro atrapalhava a visão. A televisão ficou na sombra de um pé de coco catolé apoiada numa pedra não dava pra ver direito as jogadas de Pelé com as defesas dos goleiros. E entre os mandacarus, umburanas e paus-pereira  as pessoas não sabiam que aquela copa do mundo estava entrando na história como a primeira copa do mundo a ser transmitida ao vivo pela televisão brasileira. As copas anteriores foram filmadas e mostradas depois dos jogos sem replay e tira-teima.