Esta semana tive uma alegria incomum. Fui abordado por uma senhora de cabelos brancos, irmã do ex-goleiro Daguinha, que acabou me inspirando a escrever este texto. Com um sorriso no rosto, ela deu o testemunho que todos os domingos, ao acordar, a primeira coisa que costumava fazer era ler a nossa coluna dominical, porque lhe proporcionava relembrar os bons tempos de Serra Talhada. Cada vida… uma lembrança.

Pois bem. Isto me fez lembrar da poesia que existia nas décadas de 60/70, feita não por poetas-literatos, mas por homens e mulheres comuns que percorriam as ruas da Capital do Xaxado. Como esquecer do Zé Sapateiro, que aos domingos, visitava a minha casa em busca de sapatos para engraxar. Era um negro conversador que a cada escovada debulhava contos. Como esquecer do seu Miguel do Óleo e seu carrinho de mão com as mais variadas garrafadas.

Também tem os personagens anônimos e seus ritmos. Quem nunca correu atrás de um palhaço com pernas-de-paus anunciando a estréia do espetáculo que acabara de chegar na cidade? “Ô Benedito bacurau, tá no ôco do pau.E hoje tem espetáculo? Tem sim, senhor”, respondia o côro de moleques de rua- inclusive eu- que torcia por uma queda do palhaço.

Sou do tempo do capucho de algodão doce, alfinim, tapioca quente, e dos seus personagens lutadores em busca da sobrevivência. Nunca mais tive o prazer de cruzar com um “dôtor de panelas”. Era aquele indivíduo que batia na sua porta em busca de consertar panelas furadas. Um verdadeiro artesão ambulante. Naquela época as nossas portas viviam abertas. Quase escancaradas. Os muros ainda eram baixinhos e as calçadas tinham espaço para as cadeiras e um bom bate-papo. Eu tinha uma cidade mais humana. Hoje, só me restam saudades!

Um bom domingo para todos!