Gootemberg é professor da escola estadual Antônio Timóteo

A língua portuguesa é dona de uma riqueza cultural que nenhuma outra tem. As formas diferentes de falar espalhadas pelo Brasil afora me pressionam, não apenas pelos sotaques, mas pelas dimensões dialetais e pragmatismos que se encontram presentes nas várias tessituras discursivas dos interlocutores. Essas dimensões nos revelam um universo de comunicação amplo, que não se submete a nenhum tipo de norma, a não ser a da textualidade. Seguem livres, ampliando os elementos de interação, tornando a comunicação menos burocrática, mais fácil, mais leve.

Os internautas têm sua forma peculiar de interação, os jogadores de futebol, assim como os médicos, policiais e advogados têm seus jargões. Os regionalismos  trazem um feixe de palavras e expressões interminável; sem contar que ainda existem as variedades de registro e sintonia. Não tinha como ser diferente, pois num país pluricultural, com uma população de quase 200 milhões de habitantes como o Brasil, fica impossível se ter uma língua homogênea como querem os gramáticos, amarrada a normas, presa a regras que muitas vezes não servem para nada.

Em Portugal que tem as dimensões geográficas e populacional bem menores do que a nossa, não há essa homogeneização! O povo daqui, assim como muitos portugueses, acaba a utilizando de acordo com as suas necessidades, sua cultura, região ou grupo social ao qual pertence, esquecendo certos preceitos jurássicos da gramática. Se o objetivo da língua é estabelecer a comunicação entre as pessoas, por que ainda se valoriza tanto a forma e não o conteúdo?

Essas dimensões nos revelam um universo de comunicação amplo, que não se submete a nenhum tipo de norma, a não ser a da textualidade. Seguem livres, ampliando os elementos de interação, tornando a comunicação menos burocrática, mais fácil, mais leve.

Sou a favor de estudar o texto a semântica o discurso, com o auxílio da pragmática, pois assim estaremos explorando a língua no seu aspecto funcional, ou seja, analisando o efeito de sentido que ela faz quando os interlocutores entram na cena discursiva com toda sua carga histórica, cultural e ideológica, mostrando que a linguagem é muito mais do que um mero sistema abstrato de forma, mas sim, um lugar de interações como diz o russo Mikhail Bakhtin (Marxismo Filosofia e Linguagem) um lugar onde por meio do discurso, as ideias se entrelaçam, onde os interlocutores plurivocalizam suas mentes e a partir desse processo  vão constituindo sua formação critico-ideológica diante do mundo.

E aí você pergunta: como fica a gramática nessa história? Fica no lugar onde sempre deveria ficar, ou seja, na vertical como estabelece os PCNs. Que  aliás, dá ênfase mais à leitura à, oralidade, à produção de texto (os mais diversos gêneros discursivos), e ao letramento  literário, por entender que é  dessa forma que nossos alunos irão adquirir competência crítica e comunicativa e textual. É preciso ensinar a gramática, mas não colocá-la como eixo principal no ensino de língua portuguesa Ensinar a língua padrão ainda é uma obrigação da escola, pois ela (a língua padrão) ainda é a variedade prestigiada na sociedade.

Os concursos ainda exigem o conhecimento linguístico como critério de aprovação, mas não podemos desprezar as outras variedades. Nós escutamos tantas músicas que não utilizam em suas letras a variedade padrão, no entanto, são belíssimas canções, como por exemplo a “Triste Partida” de Patativa do Assaré, músicas de Luiz Gonzaga (“…nenhum pé de prantação..” trecho da música Asa Branca ) em que se observa aí um rotacismo  que aliás já ocorreu em poemas de Camões ( o maior poeta lírico português)  Adoniram Barbosa (“…tiro ao  Álvaro..”) entre outros.

E aí você pergunta: como fica a gramática nessa história? Fica no lugar onde sempre deveria ficar, ou seja, na vertical como estabelece os PCNs. Que  aliás, dá ênfase mais à leitura à, oralidade, à produção de texto (os mais diversos gêneros discursivos), e ao letramento  literário, por entender que é  dessa forma que nossos alunos irão adquirir competência crítica e comunicativa e textual.

No que se refere à música de Adoniram, temos aí um fenômeno linguístico chamado de hipercorreção que decorre de uma hipótese errada que o falante realiza no esforço para ajustar-se a norma culta, mas acaba errando. Porém, nesse caso, há relatos de que Adoniram disse que “errava” de propósito para dar mais expressividade às suas composições. Será que se fizéssemos correção gramatical dessas letras, elas ficariam melhores, teriam a “plástica” sonora que têm. E os cordéis, quanta criatividade dos seus autores que na maioria são semianalfabetos.

Quanto se produz um texto escrito ou falado, o autor tem sempre uma intenção que muitas vezes não dá para atingir o objetivo desejado caso seja utilizada a norma padrão. Essa é uma realidade corriqueira entres os usuários de qualquer língua no mundo. Os estudos científicos realizados sobre a linguagem nas três últimas décadas nos mostraram é que no texto e no discurso há segredos que nunca iríamos imaginar que existissem. Por isso, não entendo porque a Semiótica, Analise da Conversação Pragmática, Teoria da Comunicação, a Sociolinguística, Análise do Discurso, não são vistos em alguns cursos de letras.

Foram elas que nos convidaram para conhecer melhor esse universo do contexto discursivo e da interatividade através dos signos linguísticos e extralinguísticos existentes na linguagem. É preciso que as instituições de nível superior em licenciatura (Letras) que ainda não têm esse currículo, pelo menos uma parte dele, comecem a se preocupar com isso, pois só  a gramática normativa não dará conta de mostrar o que realmente é interessante aprender sobre a funcionalidade da língua.

E aí você pergunta: como fica a gramática nessa história? Fica no lugar onde sempre deveria ficar, ou seja, na vertical como estabelece os PCNs. Que  aliás, dá ênfase mais à leitura à, oralidade, à produção de texto (os mais diversos gêneros discursivos), e ao letramento  literário, por entender que é  dessa forma que nossos alunos irão adquirir competência crítica e comunicativa e textual.