Aos 82 anos, o comerciante Gregório Ferraz Nogueira, de Serra Talhada, pode ser considerado um dos poucos do ramo que ainda mantém hábitos de quando começou. Ele faz questão de abraçar e conversar com o cliente não tendo a venda como principal objetivo, mas em manter aceso o conceito de amizade. Talvez, este seja um dos principais segredos do primeiro vendedor de sapatos da capital do xaxado.

Ele entrou no ramo ainda muito jovem, com 17 anos, onde deixou sua terra natal, Floresta, para começar a vida em Serra Talhada. “Comecei trabalhando numa fabriqueta de sapatos que existia em frente aos Correios. Minha função era de apalasador. Aquele que faz a parte de cima do sapato. Modéstia parte, fui um bom apalasador”, disse Gregório Ferraz, relembrando o início de tudo.

De funcionário para pequeno proprietário foi um pulo. Ousado, o jovem se atreveu a arrendar a pequena fabriqueta em que trabalhava. “Comecei sem nada. Comprei 6 mil contos de réis em couro ao seu Manoel Rodrigues, acho que equivale hoje a ser R$ 6 mil e segui como sapateiro. Cheguei a trabalhar com 12 homens”.

Orgulhoso da sua trajetória, Gregório Ferraz logo se tornou o primeiro dono de loja de sapatos da cidade, negociando direto com as grandes fábricas de São Paulo. Ele acabou conquistando a confiança  dos fornecedores por agir com honestidade e honrar os compromissos rigorosamente em dia.

“Logo toda sociedade de Serra Talhada estava comprando em minha loja. Na década de 70 só tinha eu vendendo sapatos. E ainda hoje, mesmo com toda a concorrência, ainda tem cliente que só quer comprar sapatos direto comigo”, diz com orgulho.

CONCORRÊNCIA E FAMÍLIA

Hoje seu Gregório Ferraz só contabiliza vitórias no ramo. É proprietário de quatro sapatarias onde gera cerca de 30 empregos diretos. Entretanto, ele ainda não se conforma com o modelo de concorrência que é praticado em Serra  Talhada.

“Ninguém conversa com ninguém. Ninguém combina nada”, garante Ferraz, aproveitando para dar um testemunho. “Olhe, eu amo o ramo de sapatos. Não tem coisa melhor. Porque fazer o que a gente gosta é bom demais e a melhor propaganda é a boca a boca. Por isso que estou a tanto tempo no ramo”, revelou.

Mas ele aproveitou para revelar o principal segredo do sucesso durante a conversa com o FAROL. “A família é tudo e me ajudou muito. Ainda hoje me ajudam. Cresci por conta do apoio da família e dos meus filhos”, disse em tom emocionado. Pai de quatro filhos (um falecido) e com seis netos, o jovem que chegou em Serra Talhada aos 17 anos disse ter a certeza de fazer tudo de novo, se fosse necessário. “O importante é você amar o que você faz.”, finalizou.